segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Perdidos no espaço - Do capítulo 1, do Descobrimento

Orbita terrestre – há 250.000 anos

  Zohan era uma figura emblemática. Seus olhos miúdos não transpareciam as preocupações que tinha como capitão daquela nave. Eram trinta tripulantes, e apenas uma dúzia deles havia sobrevivido. Por muitos anos ficaram perdidos no espaço.

  Desde que saíram de seu planeta, com a missão de desbravar novas galáxias passaram por apuros que não vem contar aqui, pois meu objetivo é justamente relatar como chegaram a um novo mundo, de tantas possibilidades que não podiam crer na dádiva que lhes era oferecida. A salvação de seu povo parecia próxima.

  Mas Zohan não queria insuflar os tripulantes com falsas esperanças, já que por tantas vezes se enganara. Não foram poucas ás vezes em que imaginou encontrar o planeta ideal, e ver em seus pares a decepção, que a cada novo insucesso proporcionava. E espaço surgia infinito como proclamavam os profetas, e bem mais perigoso do que diziam os ufanistas.

  Antes de falar mais sobre a boa nova, é preciso dizer que Zohan não era um homem. Até então nunca se soube dos humanos, e para que todos compreendam tenho de dizer como era Zohan e sua raça.

  Os corpos dos Melgalorianos eram bem diferentes dos homens. A pele platinada dispensava o uso de vestimenta, os olhos miúdos eram desproporcionais a cabeça oval e longa. Não tinham boca, nem ouvidos, já que toda a comunicação se dava por telepatia, e a alimentação provinha de sulcos na ponta dos quatro dedos de cada mão, que sugavam a energia concentrada em qualquer atmosfera. Só não eram imortais por causa da fraqueza a determinadas bactérias, e, evidentemente quando de “causa mortis” provocada por fatores aleatórios, como aconteceu com a maioria dos tripulantes da Coríntius. Mas dela logo falarei.

  Outra característica dos Melgalorianos era a altura. Mediam entre dois metros e trinta, e três metros. Zohan tinha exatos dois metros e sessenta, mas não era o mais alto da Coríntius. Apesar de altos, a estética do povo de Zohan era de uma beleza ímpar, cujos corpos pareciam desenhados por arquitetos que tomaram cuidado em cada linha, em cada traço. Melgalorianos eram o que de mais belo havia no design corporal, esbeltos, e com postura nobre. Sem dúvida eram seres fascinantes.

  Coríntius era o nome da nave que tripulavam. Era a sétima nave de pesquisa, mas que se perdera tão logo partiu de Melgal. Um buraco negro a sugou como um ralo recebe a água do banho. Mas o que faziam estas naves? Buscavam a sobrevivência. Era com urgência que necessitavam os Melgalorianos encontram novos planetas habitáveis, desde que os cientistas locais afirmaram que entre mil e cinco mil anos o núcleo do planeta entraria em combustão. Um tempo longo para os homens, mas não ao Melgalorianos que observavam o futuro longínquo.

  Então depois de cada nave construída, partiram tripuladas por soldados e estudiosos, em busca de um planeta em qual sua espécie pudesse ser salva. Zohan até aquele dia, não consegui perdoar a si mesmo pelo fato de perder-se pelo espaço. E isto já fazia para perto de quinhentos anos, e a dor do fracasso ainda o consumia. Todos os sobreviventes sabiam de sua tristeza, estavam conectados uns aos outros, e como nele, em cada um dos tripulantes, uma pequena centelha de esperança ganhou vida.

  A galeria de comando, adornada por painéis luminosos, e com uma vasta abertura protegida por uma espécie de vidro melgaloriano dava visão ao espaço negro que os envolvia. Mas um insistente ponto luminoso a piscar num dos painéis dizia que havia algo a frente. Estupefatos, os tripulantes acompanhavam a navegação lenta da Coríntius, cruzando por um corpo celeste desabitado e morto. Mas não era este pequeno satélite que os painéis indicavam.

  Ao passo que a velocidade de cruzeiro da nave avançou, surgiu bem na frente dos maravilhados seres, um planeta. – Como é azul! Disse Zohan. Seus olhos cintilavam ao ver um pequeno planeta dominado pela cor azul, girando em seu próprio eixo, adormecido em pleno espaço sideral.

  Os melgalorianos jamais haviam ouvido falar em tal sistema galáctico, ou em tal planeta. Mas não tiveram a mínima dúvida que era preciso pousar naquela terra desconhecida. Talvez estivesse ali a salvação de sua raça.

Prólogo

Brasília, março de 2014


  O tempo seco e abafado envolve o planalto, cortado em linhas retas as avenidas que levam ao coração do poder do Brasil. O asfalto largo, e a grama pálida são invadidas, não por carros como costumeiramente, mas sim por inúmeros veículos de guerra do Comando Militar do Leste.

  Nenhum civil tem permissão para trafegar pela esplanada dos ministérios. Nem mesmo os repórteres que se amontoam como formigas buscando o melhor ângulo. Estão por todos os lados, na torre, sobre o viaduto da rodoviária, berço de nordestinos, agora invadido por potentes câmeras que filmam toda a estranha movimentação.

  Nada oficial fora divulgado. Nenhuma nota do Palácio do Planalto. O que permite uma dezena de suposições, de golpe militar, a declaração de guerra contra os Estados Unidos. Afinal há tempos discordam os países quanto á questão do Irã, e informações desencontradas dizem que Whashigton também foi tomada por militares. Mas não há nada de concreto, já que há dias os sinais de satélite vinham falhando.

  No gabinete da presidência, uma líder olha pela vidraça atônita, enquanto aguarda confirmação, e observa Brasília ser tomada por tanques, e jatos que cruzam o céu celeste.

  — Então ministro, é possível? Pergunta a presidente.
  — Senhora presidente, sim é possível. Diz o Ministro da Defesa com um semblante desanimador. Os dados do satélite são surpreendentes, há uma frota imensa lá fora. O mundo todos se prepara para uma invasão. Sentenciou como um juiz chinês que pune com a morte seus condenados.